terça-feira, 8 de outubro de 2013

Clemer revela gratidão a Tite, celebra Inter 'feliz' e impõe estilo sem mistério

Em entrevista, ex-goleiro diz que aprendeu com a reserva em 2008, fala de seus ídolos e sobre efetivação como técnico: 'Vão deixando... e você fica'


Por Porto Alegre
 
clemer inter técnico interino (Foto: Tomás Hammes/Globoesporte.com)
Clemer, interino mas com vontade de ir além
(Foto: Tomás Hammes/Globoesporte.com)
Clemer é interino, mas não esconde o desejo de querer evoluir e, quem sabe, se receber uma oportunidade, até ficar de vez no profissional do Inter. Mesmo que a direção busque um treinador para o restante de 2013 e que, de preferência, seja o mesmo em 2014, o ex-goleiro ainda mantém a chama acesa. Porque Clemer é, antes de tudo, movido pela confiança. Confiança que, ao vencer o Fluminense em sua estreia, conseguiu resgatar entre os jogadores e que também usa em seu método de trabalho.

Afinal, não é adepto do mistério, esconder escalações ou coisa do tipo. É na dureza da sinceridade que diz ter aprendido muito com seu ex-técnico e agora colega Tite, que o colocara no banco do Colorado em 2008 - encerraria a carreira de luvas em 2009. Mas também não se esquece das outras duas grandes referências profissionais.

- O Abel, o Muricy... O Muricy é 100%. Posso falar também do Tite. Foi o Tite quem me tirou da titularidade. Até fiquei muito chateado com isso. Mas a partir daquela situação eu cresci muito. E o Tite não estava errado. São coisas que acontecem. Você percebe as coisas que são traçadas um pouco mais à frente. Quando encontrar com o Tite, vou agradecer pelo que ele me fez. Aquilo foi um aprendizado em minha vida. Este é um cara que precisa ser respeitado. Olha tudo que conquistou - afirma, em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM.
Atual treinador do sub-20 após dois anos e meio com oito títulos à frente do time juvenil, Clemer, 44 anos, foi garantido pela direção para os jogos contra Flamengo e Náutico, na quinta e no domingo. Mas, se depender dele, não vai parar por aí:
- Agora, se me colocarem, eu serei. Acho que tenho capacidade. Isso já aconteceu com outros. Vão deixando, deixando, e você fica.

Confira os principais trechos da entrevista:
GLOBOESPORTE.COM - Como foi a conversa com o grupo de jogadores e a direção após a vitória sobre o Fluminense?

Vi o pessoal muito feliz. Até por tirar o peso das derrotas. Quando vem a vitória, o ânimo melhora. Há a esperança. Os jogadores desabafam mais, tiram o peso das costas. A alegria dos jogadores. E é bom que se entenda. Eles não estavam desmotivados quando eu cheguei. Eles estavam tristes por não ganhar. Conversei bastante com o (presidente Giovanni) Luigi, com o Luís César (Souto de Moura, diretor de futebol). Sempre me dei bem com os dois. O (diretor de futebol Marcelo) Medeiros também é um cara 100%. Foi uma relação muito boa, e me senti bem com aquela alegria deles.

A direção disse que você fica até domingo? Mas se deixar, você fica.

Isso. Eles estão negociando com um treinador. Como sou interino, vou ajudá-los até domingo. Antes era só o Fluminense. Não quero tomar o lugar de ninguém. Sou funcionário do Inter. Estou à disposição do clube. Se o treinador que chegar precisar de alguma informação, receberá todas. Agora, se me colocarem, eu serei. Acho que tenho capacidade. Isso já aconteceu com outros. Vão deixando, deixando, e você fica.
Agora, se me colocarem
(de técnico efetivo), eu serei.
Acho que tenho capacidade.
Isso já aconteceu com outros... Vão deixando, deixando, e você fica"
Luís César falou em um projeto para você. Que projeto é esse?
Acredito que seja interligar a base com o profissional. Ouvi as entrevistas dele. Na hora que precisar de informações, um jogador. Eu, por conhecer bem a base, posso ajudar. Fica mais fácil.

Deixando as comparações de lado, mas a história do Guardiola (atual técnico do Bayern Munique) e a sua são semelhantes. Você é ídolo do Inter, assim como ele é do Barcelona. E também passou por outras etapas antes de treinar o time principal.

É uma história, né. Caso se concretize, poderia escrever um livro legal. Achei engraçado falarem que eu venci muito na base. Vi no Facebook. É legal. Sempre venci por onde passei. Me cobro muito. Desde quando jogava. Assistia aos meus jogos. Hoje assisto ainda. É por isso que acontece. Nada é por acaso. O trabalho, dedicação, entrega, dá resultado. É o sacrifício. É como o meu pai diz: “em tudo que você fizer, faça bem feito, meu filho”. Levo isto para tudo na vida. Em tudo que eu entro, quero ganhar, nem que seja um jogo de palito. Não entro para brincar. E procuro passar isso. Sou sanguíneo. É minha característica. E é bom cobrar e ser cobrado, porque você sempre quer crescer.
Mosaico Clemer (Foto: Divulgação / Internacional)Clemer foi campeão do mundo como goleiro, treinou Muriel como preparador e venceu pela base
Você sempre costuma falar que o Abel é uma de suas referências. Em quem mais você se espelha para ser um grande técnico?

O Abel, o Muricy. O Muricy é 100%. Posso falar também do Tite. Eu tenho uma história interessante com ele. Foi o Tite quem me tirou da titularidade. Até fiquei muito chateado com isso. Mas a partir daquela situação eu cresci muito. E o Tite não estava errado. São coisas que acontecem. Você percebe as coisas que são traçadas um pouco mais à frente. Ali já começava a aparecer outra situação para mim. Quando encontrar com o Tite, vou agradecer pelo que ele me fez. Nem sei como ele reagirá, mas aquilo foi um aprendizado em minha vida. Este é um cara que precisa ser respeitado. Olha tudo que conquistou. Trabalhei com ele. Acho que são as minhas três referências.
Em tudo que eu entro, quero ganhar, até jogo de palito.
Não entro para brincar.
Sou sanguíneo.
É minha característica."
Você joga junto com os jogadores, grita, orienta, busca posicionar. Você acredita ser mais um motivador, um estrategista?

Acredito que é preciso ter um pouco de cada. Eu me cobro muito. Fico pensando ‘o que está faltando’? É estratégia? Então vamos estudar mais. É trabalho dentro de campo? Então vamos trabalhar fundamentos. Para ser um bom treinador precisa mesclar, buscar informações, mostrar na prática, saber transmitir as suas ideias, saber no jogo onde está o erro e como neutralizar o adversário. Se você tiver este arsenal, poderá evoluir como treinador.
clemer inter técnico interino (Foto: Guilherme Araujo/TXT Assessoria)Clemer concede mais uma entrevista na segunda-feira (Foto: Guilherme Araujo/TXT Assessoria)
Você gosta de montar o time baseado no adversário ou prefere formar sua escalação e deixar para ele enfrentar?

Procuro ver o adversário. É muito importante saber como ele atua até para não ser surpreendido. Mas gosto muito de falar do meu time, de dar moral ao meu time. Não de dar ênfase ao adversário. Fulano é isso. O time tem aquilo. Não. O adversário é bom, tem estas qualidades, mas temos as nossas. E, se fizermos o que precisar, vamos igualar ou até ser melhor. Gosto de levantar o moral do meu time. Aprendi isso com quem? Abel. Lembro o jogo com o Barcelona. É uma experiência que segue guardada. Ele chegou e nos mostrou os defeitos do Barcelona e falou das nossas virtudes. E o que aconteceu no jogo? É este tipo de vivência que te dá bagagem. Se o material humano não for tão bom, é claro que você se preocupará em fechar a casinha.
Tem muita qualidade na base. Mas você deixa uma semana, quatro dias ali treinando. Na hora que precisar, você traz um. O que não se pode é amontoar de garotos"
O mistério ajuda?

Não gosto muito, não. Não ajuda em muita coisa. O cara do outro lado sabe. Tem muito jogo. Todo mundo sabe o estilo que o adversário atua. Não é possível apresentar 40 esquemas diferentes. Isso não existe. Você se prepara para a ocasião que vier. Eu sabia o time do Fluminense, como atuam os suplentes. Conversei com os jogadores, mostrei os vídeos e os enfrentamos. Não mudou em nada. Um ou outro jogador até muda, mas a forma de atuar é sempre a mesma.
Você trabalhou com o Otávio no sub-17. Como foi este reencontro?
O Otávio era uma promessa, mas já virou uma realidade. Não é porque saiu direto do meu time. Eu meti uma faca no meu time quando o perdi. Mas sabia que ele não precisava passar pelo sub-20, sub-23. Ele estava sobrando na turma.  Às vezes a etapa atrapalha. Hoje ele está pronto. Quando subiu, começou a conviver, tomou uma pancada mais forte. O drible tem que ser outro. Hoje ele não sente mais.
Você trouxe o Thales, o Nathan, o Valdívia para o último jogo. Pretende seguir trazendo garotos?
Eu vou tentar, enquanto estiver aqui, diversificar. Conheço muito jogador bom. Tem muita qualidade na base. Mas você deixa uma semana, quatro dias ali treinando. Na hora que precisar, você traz um. Quem se destacar, for diferente, aí ficará. E assim você coloca jogadores de qualidade. O que não se pode é amontoar de garotos. Lá tem jogadores de alto nível. Os jogadores que estão subindo irão aprender com quem já está. Mas, caso se destaque, aí deixa andar.

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